Patrícia Galvão, conhecida como "Pagu", foi uma prolífica escritora e artista brasileira, criando um corpo diversificado de obras que abrangeu diversos gêneros, incluindo jornalismo, literatura, poesia, ilustração e teatro. Suas obras refletiram sua aguda inteligência, consciência social e compromisso inabalável com o feminismo e o ativismo político.
Ela nasceu em 9 de maio de 1910 em São João da Boa Vista (São Paulo), Brasil, em uma família rica e conservadora. Ela viria a personificar o espírito de desafio e expressão criativa em uma época de agitação social, tendo uma vida incrível por meio de muitas profissões e países.
Os primeiros anos de Pagu a viram surgir como musa das luminárias do modernismo brasileiro, um movimento que buscava redefinir as normas artísticas e literárias no início do século XX. Sua personalidade radiante e sua destreza intelectual rapidamente chamaram a atenção de figuras proeminentes, garantindo-lhe um lugar nos círculos internos da vanguarda brasileira. Aos 19 anos, ela iniciou um relacionamento romântico com Oswald de Andrade (20 anos mais velho que ela), um dos artistas mais proeminentes do movimento modernista, que estava casado na época com a pintora Tarsila do Amaral. Eles se casaram em 1930, o que causou um grande escândalo na época.
No entanto, a trajetória de Pagu evoluiu além de ser musa artística quando ela encontrou sua voz como jornalista, marcando o início de sua transformação em uma força feminista e política. Seus escritos incisivos expuseram as duras realidades da sociedade brasileira, destacando questões como os direitos das mulheres, as lutas trabalhistas e a desigualdade social. Sua crítica destemida ao status quo demonstrou seu compromisso com a justiça social, estabelecendo-a como uma figura proeminente dentro do incipiente movimento feminista.
À medida que o ativismo de Pagu se intensificou, assim também se intensificaram seus conflitos com as autoridades. Suas convicções destemidas a levaram a se juntar ao Partido Comunista, uma decisão que acabaria por alterar o curso de sua vida. Em 1931, ela participou de uma greve de estivadores em Santos (São Paulo) e foi presa pela polícia política de Getúlio Vargas. Este foi o primeiro de uma série de 23 prisões ao longo de sua vida.
Em 1934, ela foi exilada em Paris sob uma identidade falsa, trabalhando no jornal L'Avant-Garde e como tradutora de filmes. Durante esse período, ela conheceu André Breton, Paul Éluard, René Crevel e Louis Aragon, todos fazendo parte da vanguarda francesa. Ela participou do Partido Comunista Francês e foi presa três vezes.
Em 1935, foi deportada. De volta ao Brasil, Pagu se separou de Oswald de Andrade e retomou o trabalho como jornalista. Ela foi presa e condenada em dois julgamentos. Passou um total de quatro anos na prisão, onde foi torturada. Em 1940, casou-se com o escritor, jornalista e crítico literário Geraldo Ferraz, com quem ficaria até o final de sua vida.
Os últimos anos da vida de Pagu testemunharam mais uma transformação notável quando ela mergulhou no mundo da direção teatral. A partir de suas experiências ricas, ela escreveu peças convincentes que mesclaram seu espírito criativo com seu compromisso com a mudança social. Essas peças refletiram o complexo cenário de sua vida, cheio de resiliência e rebeldia.
Pagu faleceu em 12 de dezembro de 1962, deixando para trás um legado que continua a inspirar e cativar. Sua jornada, desde musa até jornalista feminista, desde o ativismo político até o aprisionamento e o exílio, e finalmente até sua produção prolífica como diretora, serve como um testemunho de seu espírito indomável e de sua duradoura contribuição para a literatura brasileira, o feminismo e a justiça social.
"Parque Industrial" (1933): O primeiro romance de Pagu, considerado o primeiro romance proletário brasileiro. Ele oferece um retrato cru e crítico da vida das operárias de fábrica, lançando luz sobre suas lutas, sonhos e aspirações em meio a uma sociedade em rápida transformação.
"A Famosa Revista" (1945): Escrito em colaboração com Geraldo Ferraz, este livro é repleto de drama e lirismo e, ao mesmo tempo, faz uma crítica contundente ao Partido Comunista.
Pagu foi uma jornalista influente, escrevendo para vários jornais e revistas ao longo de três décadas, como O Homem do Povo, A Vanguarda Socialista, Diário de São Paulo, etc.
Entre 1933 e 1934, durante uma viagem por oito países (Brasil, EUA, Japão, China, Rússia, Polônia, Alemanha e França), ela publicou artigos em Diário de Notícias, Correio da Manhã e Diário da Noite. Seus artigos abordaram uma ampla gama de temas, incluindo os direitos das mulheres, desigualdade social, política e comentários culturais. Ela entrevistou Sigmund Freud, George Raft, Raul Roulien e Miriam Hopkins. De 1945 a 1956, ela trabalhou na Agência France-Presse.
A incursão de Pagu na direção e na escrita teatral marcou uma fase significativa em sua carreira artística. Durante os anos 1950 e início dos anos 1960, ela escreveu "Fuga e Variações" e traduziu "A Cantora Careca" de Ionesco (The Bald Soprano). Em 1958, co-dirigiu "Fando e Lis" de Fernando Arrabal ao lado de Paulo Lara. Ela também liderou a coordenação do Primeiro Festival de Teatro Amador de Santos e do Litoral, defendendo o teatro de vanguarda. Na década de 1960, ela participou de encontros com Jean-Paul Sartre e Eugéne Ionesco em São Paulo e no Rio de Janeiro. Suas realizações incluem a tradução e direção da peça de Octavio Paz "A Filha de Rappaccini" em Santos. Em 1961, ela continuou seu trabalho de tradução ao trazer a peça de Par Lagerkvist "O Túnel" para o português.
Fonte:
http://www.pagu.com.br/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pagu